Era um dia como todos os outros, porém tornou-se especial. A vida tem dessas coisas, uma hora estamos imersos na rotina e, no segundo seguinte, somos interpelados pelo novo, pelo surpreendente. Que tal ser colunista de um jornal? Que tal escrever sobre as crianças, a infância e tudo que rodeia esse universo cheio de cores, sorrisos e também muitos desafios?
Então, cá estou! No início de um caminho, porque não dizer, início de uma aventura. Para mim, a escrita sempre foi uma aventura, assim como a leitura. Essa dupla que nos leva por mundos diferentes, nos permitem viver e sentir experiências e sensações até então desconhecidas e têm a grande magia de não serem definitivas. Tudo que vivemos na leitura e na escrita nos permite recomeçar, reviver, sentir de novo, de outro jeito, mais uma vez.
Não é à toa que Freud comparou a atividade da escrita com o brincar infantil. Para ele, o escritor faz o mesmo que a criança ao brincar, ou seja, os devaneios que compõe a fantasia e as obras literárias são prosseguimento e substituição do que um dia foi a brincadeira infantil. Talvez seja esse o ponto em que me aproximo do mundo infantil ou ainda, esse é o ponto em que percebo que nunca deixei esse mundo, apenas o transformei.
Sempre me questionei o porquê escolhi a clínica com crianças e hoje após algum tempo de trabalho, as crianças e suas famílias vão me dando respostas (de maneira alguma conclusivas, essas nunca teremos). Pensando sobre a escrita para o jornal, achei interessante compartilhar tudo isso que me encanta, desafia, emociona e faz sorrir dentro do universo infantil. Precisamos falar mais sobre as crianças, precisamos escutá-las, aprender com elas e respeitá-las, pois ela entendem muito bem o que vivem ao seu redor.
Arrisco dizer que o mais incrível na infância é aquilo que a imaginação e o faz-de-conta permitem às crianças: na infância tudo é possível! As crianças voam sem sair do chão, elas são o mocinho e o vilão ao mesmo tempo, constroem foguetes e viajam pelos planetas, veem estrelas, se assustam com os monstros e logo depois os matam, tornando-se os heróis da sua própria história.
As crianças fazem o tempo todo aquilo que nós adultos fomos perdendo ao longo do caminho. As crianças vivem e se deliciam com a vida, se lambuzam com o viver como quem o faz com uma torta de chocolate. É claro que algumas obrigações do mundo adulto não nos permitem fazer isso o tempo todo, assim como os pequenos. Porém, a infância também não é só diversão e repleta de momentos felizes. As crianças têm uma tarefa árdua, elas precisam entender o que é afinal essa coisa chamada vida e o que fazemos com ela. Os adultos acham que já sabem. Tolos, mal sabem eles que continuamos aprendendo. Talvez se nos inspirássemos mais nas crianças, toda essa caminhada fosse mais divertida e acima de tudo, mais leve.
Com tudo isso na bagagem vou iniciando minha aventura na escrita, tenho certeza que as crianças com quem trabalho e aquela que existe dentro de mim irão me ajudar. Desafio aceito. Desbravaremos o mundo da escrita, da infância e de um bocado de coisas que juntas chamamos de vida.
Fonte: Pixabay